Jack London

Jack London nasceu em São Francisco, na Califórnia, em 12 de janeiro de 1876. Seu verdadeiro nome era John Griffith Chaney. Ele adotou o sobrenome do padrasto, John London, um veterano da Guerra Civil, depois de ter passado uma infância marcada pela pobreza e muita dificuldade. Talvez por isso tenha freqüentado a escola somente até os quatorze anos, optando pelo trabalho informal, que lhe proporcionou experiências inusitadas. Com o dinheiro ganho em pequenos empregos, ele comprou um barco, o Razzle Dazzle, com o qual se aventurou na pesca ilegal de ostras, e logo conquistou o título de “príncipe dos piratas de ostras”, como ficou conhecido na Califórnia. Na verdade, London pretendia escapar da vida dura de “burro de carga”, conforme dizia. E realmente conseguiu ganhar dinheiro – em uma semana, ganhava mais do que viria a receber, futuramente, durante um ano inteiro como escritor em início de carreira. Mas renunciou ao ofício de pescador pelo risco iminente de ser preso, o que acabou acontecendo mais tarde em Niagara Falls, sob a alegação de vadiagem. Jack London exerceu muitas “profissões”, mas, ao mesmo tempo em que se descobria um homem sem profissão definida, alimentava uma curiosidade aparentemente insaciável: lia tudo o que lhe caía nas mãos, de Nietzche a Babeuf, com direito aos clássicos de Fourier e Proudhon, até que teve acesso ao Manifesto Comunista de Marx e Engels e converteu-se à causa operária, cultivando um socialismo para uso próprio – curiosa mistura de luta de classes, conceitos nietzchianos e crença na superioridade dos anglo-saxões sobre o restante da humanidade. Ficou conhecido por sua oratória nas ruas e participação em marchas de protesto de desempregados. Sua personalidade agitada não conseguiu segurá-lo por mais que alguns meses na Universidade da Califórnia, em Berkeley, pois “a busca, sem paixão, de um conhecimento sem paixão” o entediava. Então, aos 21 anos, no auge da “febre do ouro” no Alaska, decidiu tornar-se garimpeiro e partiu a bordo do SS Umatila, acompanhado e patrocinado por um cunhado que era capitão. Depois de um mês de prospecção de ouro, fixou-se em Henderson Creek, numa cabana, e ficou conhecido entre os garimpeiros por sua boa fama de contador de histórias. No ano seguinte, começou a apresentar sérios sintomas de escorbuto, em razão da escassez de frutas e vegetais frescos naquela região. Como não conseguia mais trabalhar e precisava seriamente de assistência médica, decidiu voltar para casa. Mesmo doente remou por 1500 milhas ao longo do rio Yukon, num pequeno barco, até chegar a Saint Michael, onde tomaria um navio.
Uma insaciável vontade de viver, um indomável espírito de exploração e uma incansável busca de horizontes e experiências novas moveram Jack London em sua trajetória de vida. Sua estada no Alaska, embora não o tivesse tornado um homem rico, como pretendia, representou um filão precioso de material para algumas de suas futuras e mais famosas histórias: The Call of the Wild (O Chamado da Selva), White Fang (Caninos Brancos) e Burning Daylight (Sol Ardente). Em seu retorno a Oakland, descobriu que o padrasto havia falecido. Então, a reponsabilidade de sustentar a mãe e um sobrinho o levou a procurar emprego fixo. Sem sucesso e desesperado, vendeu o que pôde de seus pertences e, finalmente, começou a escrever. Embora fosse talentoso, só conseguiu vender seu primeiro conto, uma história do Alaska intitulada To the Man on Trail, depois de batalhar muito. Foi, então, o início de sua carreira como escritor. A partir daí, com obstinada decisão, estabeleceu para si a meta de escrever, no mínimo, mil palavras por dia. Assim procedendo, conseguiu produzir inúmeras obras e artigos sobre temas variados durante dezesseis anos. Em 1900, publicou seu primeiro livro – The Son of the Wolf (O Filho do Lobo). Nesse mesmo ano, casou-se com Bess Maddern, movido mais pelo sentimento de companheirismo do que propriamente por amor. Com ela, teve duas filhas, Joan e Bess, mas divorciou-se três anos depois. Em 1905, casou-se com Charmian Kittredge, sua secretária; desta vez por amor. Parceira de suas inúmeras viagens, projetos e aventuras, ela serviu de inspiração para muitas de suas personagens femininas. Incentivada por ele, Charmian também escreveu suas próprias obras – The Log of the Snark, Our Hawaii e The Book of Jack London – três livros sobre sua vida e suas experiências. Na companhia de Charmian, London obteve certa estabilidade e, a partir de então, publicou os romances que lhe trouxeram fama definitiva – O Chamado da Selva, em 1905, Caninos Brancos, em 1906, e Sol Ardente, em 1910. Em 1907, embarcou com a mulher para uma viagem ao redor do mundo, pelo Pacífico, num pequeno barco chamado Snark. Embora não tenha completado a turnê, chegou à Austrália e aos Mares do Sul em 27 meses e obteve preciso material para romances e contos sobre as culturas da Polinésia e da Melanésia, como The Cruise of the Snark (O Cruzeiro do Snark), lançado em 1911. Contribuiu para quebrar o preconceito contra a lepra, ao mesmo tempo em que popularizou o Havaí como ponto turístico. Jack London foi um dos escritores americanos mais populares, mais lidos e mais bem remunerados de sua época; foi uma celebridade que freqüentava assiduamente os noticiários com sua brilhante e controvertida personalidade. Normalmente bem-humorado e brincalhão, ele sabia ser combativo quando necessário, e se colocava sempre ao lado da parte mais fraca contra a injustiça e a opressão de qualquer tipo. Era um orador eloqüente e usava a tribuna para defender o socialismo, o voto feminino e outras questões sociais. Esta sua posição mais amadurecida provavelmente foi resultado do tempo em que ele se dedicou ao estudo das condições de vida dos trabalhadores e da população pobre de East End, na Inglaterra, e que lhe rendeu a produção da obra The People of the Abyss (O Povo do Abismo), em 1903, sucesso nos Estados Unidos e, compreensivelmente, objeto de crítica na Inglaterra.
Apesar de posicionar-se como um socialista fervoroso, London não deixou de obter e usufruir do sucesso no mundo capitalista. Em 1905, decidiu estabelecer-se em definitivo no Vale da Lua, onde adquiriu terras com mata, fontes, riachos, canions e muita vida selvagem. Ele amava a vida rural, criava animais, cultivava vinhedos. Tinha idéias avançadas sobre fazendas auto-sustentáveis e as colocou em prática, introduzindo técnicas, culturas e modelos inovadores. Uma parte significativa de seus últimos livros – Burning Daylight, Valley of the Moon, Little Lady of the Big House – tratavam dos prazeres simples da vida do campo. Mas um incêndio, cuja causa não foi esclarecida, consumiu tragicamente a Wolf House (Casa do Lobo) que o escritor havia construído para a família, na fazenda do Vale da Lua. Deprimido com a destruição de seu sonho e com o abalo financeiro, decidiu voltar a escrever. Com um adiantamento editorial, construiu um pequeno estúdio, onde continuou a produzir artigos, contos e romances, solicitados por um crescente público leitor em vários países. Em 1915, Charmian o persuadiu a passar alguns meses no Havaí, mas sua verdadeira paixão era a fazenda e os planos de aumentar sua produção.
Jack London tinha problemas renais que o incomodavam há anos. E embora os médicos o sugerissem constantemente a mudar de hábito alimentar, ele não os obedecia. Em 1916, no dia 22 de novembro, ele faleceu de uremia gastro-intestinal, aos 40 anos. Nos curtos dezesseis anos, que vão de 1900 a 1916, o autor produziu e publicou mais de cinqüenta livros, entre ficção e não-ficção, centenas de contos e numerosos artigos sobre diversos temas. Foi traduzido em setenta línguas e continua até hoje a ser lido no mundo inteiro. Milhões de leitores se fascinaram com suas histórias de aventura. Sua própria vida, entretanto, foi tão ou mais aventuresca que sua obra. Escreveu contos antológicos como To build a Fire, um clássico do gênero, e editou várias coletâneas de contos, como The Son of the Wolf (O Filho do Lobo), The God of his Fathers (O Deus de seus Pais), Children of the Frost (Filhos do Gelo), Love of Live (Amor à Vida), Lost Face (A Face Perdida), The House of Pride and Other Tales of Hawaii e On the Makaloa Mat. Seus romances mais conhecidos, além dos citados “O Chamado da Selva”, “Caninos Brancos” e “O Lobo do Mar”, primeiro longa-metragem americano, são “O Tacão de Ferro”, “O Povo do Alaska”, “John Barleycorn”, “Martin Éden” e “O Andarilho das Estrelas”, cuja edição temos o prazer de oferecer ao público leitor.

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