Abade Faria

ABADE FARIA por Francisco Monteiro

José Custódio Faria mais conhecido por Abade Faria, filho do Caetano Valeriano Faria e Maria de Sousa, nasceu a 30 de Maio de 1756 em Candolim, concelho de Bardez, distrito de Goa antigo Estado da Índia; seu pai esteve envolvido em 1787 na conhecida “Revolta dos Pintos” também designada por “Conjuração dos Pintos”, que procurava terminar com a administração portuguesa, mas que não obteve êxito e foi duramente reprimida pelas autoridades portuguesas.
Aos 15 anos de idade saiu de Goa acompanhado de seu pai com destino a Lisboa, onde chegou a 23 de Novembro de 1771. Passado pouco tempo seguiu para Roma, a fim de estudar no Colégio da Propaganda. Em 12 de Março de 1780 foi ordenado presbítero; doutourou-se em Filosofia e Teologia pela Universidade de Roma; terminados os seus estudos regressou a Portugal, onde pela sua inteligência, saber e compostura moral chegou a conquistar grande fama de pregador.
Em 1788 emigra para Paris, fixando a sua residência na Rua de Ponceau; com o seu carácter irrequieto passa em 1795 a ser “leader” de um dos batalhões revolucionários, comandando uma das secções do tristemente célebre “10 do Vendimario”, que atacou a convenção e em cuja queda tomou parte activa, pelo que conseguiu ter relações com altas personalidades políticas, frequentando com Chateaubriand, os salões de Madame la Marquise de Coustine, amigo do Marquês de Puységur a quem dedicou o seu livro sobre as “Causas do Sono Lúcido”.
Em 1811 foi nomeado Professor de Filosofia da Universidade de França e eleito sócio da Societé Medicale de Marseille, ou seja membro da Academia de Medicina, sem nunca ter sido médico.
Em 1813 Abade Faria, que era discípulo de Puységur, soube que a divulgação de sonambulismo tinha crescido de importância; regressa então a Paris, onde prega uma doutrina nova, que contribui para a aumentar sua notoriedade; ganha uma aura auspiciosa, mostrando ser um rival de Mesmer e dá início as suas práticas magnéticas.
Apesar de apodado de charlatão por uns, de possuir poderes divinos por outros, supondo-o as autoridades religiosas que ele está em pacto com o diabo, chega a revolucionar academias e agitar durante muitos anos outros centros científicos e as doutrinas teológicas.
Com a sua obra “Da Causa do Sono Lúcido no Estudo da Natureza do Homem”, publicada em Paris em 1819, provoca intermináveis polémicas.
Mas o certo é que, rapidamente a fama do criador do hipnotismo vai crescendo, tornando-se na cidade de Paris, o alvo de atenção de todos. Foi ele o primeiro no mundo científico que defendeu a verdadeira doutrina sobre a interpretação dos fenómenos sonâmbulos, chegando a hipnotizar quase cinco mil pessoas. Escritores famosos de França, Bélgica, Portugal e Alemanha reconheceram o Abade Faria como o “Pai da Escola de Nancy”.
Por causas não esclarecidas, foi preso e encarcerado no Castelo do Iff, onde Alexandre Dumas (pai) o foi buscar para a imortalidade e foi ele quem indicou à Edmund Dantés o fabuloso tesouro de Monte Cristo.
Pobre e abandonado, quando ainda se encontrava em impressão o primeiro volume da sua célebre obra, faleceu duma apoplexia fulminante em Paris no dia 20 de Setembro de 1819.
Abade Faria distinguiu-se como pregador, teólogo, físico e magnetisador, ou seja o fundador da ciência de hipnotismo, o primeiro a proclamar a doutrina de sugestão na hipnose.
Abade Faria é um nome glorioso que se evoca em todos os centros de cultura do mundo, podendo dizer-se que não há indivíduo suficientemente ilustrado que o desconheça.
O Professor Bernheim, um dos estudiosos consagrados à causa do hipnotismo, referindo-se ao Abade Faria dizia: “A Faria pertence o incontestável mérito de ter estabelecido em primeiro lugar a doutrina e o método do hipnotismo pela sugestão e de tê-lo nitidamente libertado das doutrinas singulares e inúteis que ocultavam a verdade. É na realidade, quem deu, antes de todos a concepção nítida e verdadeira dos fenómenos de hipnotismo.
Por sua vez o general francês Noget dizia a respeito do Abade Faria: “Encontrava-se em Paris um homem que fazia publicamente a experiência de sonambulismo. Em cada dia (isto em 1815) reunia em sua casa umas 60 pessoas e era raro que entre estas, não se encontrassem cinco ou seis susceptíveis de entrar em sonambulismo. Não se esquecia de declarar abertamente que não possuía nenhum segredo, nenhum poder extraordinário, tudo o que obtinha dependia da vontade das pessoas sobre as quais actuava.
Abade Faria é uma figura intelectual na ciência, embora envolta em brumas de mistério; é considerado por vários escritores reputados, como um dos mais notáveis hipnotizadores do Mundo e fundador duma grande escola científica de hipnotismo, ou seja um herói que introduziu na Europa a ciência hipnótica, rivalizando com Mesmer.
Abade Faria foi muito popularizado e imortalizado pelo grande escritor francês Alexandre Dumas no seu conhecido romance “O Conde de Monte Cristo”; existe também um importante estudo sobre a vida de Abade Faria intitulado “Padre Faria na História do Hipnotismo, 1925” da autoria do eminente Professor Dr. Egas Moniz.
Na cidade de Pangim, capital de Goa, ao lado do histórico Palácio do Hidalcão e tendo como pano de fundo o nosso encantador rio Mandovi, existe um monumento homenageando este grande vulto da nossa história. Também a Câmara Municipal de Salcete (Margão) homenageuou este vulto da nossa história dando o seu nome a uma das ruas da cidade de Margão. O governo geral de Goa não ficou indiferente em relação ao Abade Faria e deu o seu nome ao Hospital Psiquiátrico no Altinho (Pangim). A Câmara Municipal de Lisboa também homenageou Abade Faria dando o seu nome a uma das ruas da capital portuguesa.

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