Alfred Percy Sinnett

Alfred Percy Sinnett (1840 — 1921)
Alfred Percy Sinnett foi um dos poucos favorecidos com o privilégio de se comunicar com os Adeptos, sob cuja orientação a Sociedade Teosófica foi fundada nas últimas décadas do século XIX. As Cartas dos Mahatmas para A.P. Sinnett e As Cartas de H.P. Blavatsky. para A.P. Sinnett, dois volumes editados por A. Trevor Barker, permanecem como os mais importantes dentre os muitos livros excelentes escritos em apoio ao Movimento Teosófico. O quadro que essas compilações fornecem sobre os pioneiros e, ainda mais importante, dos próprios Mahatmas, irão facilitar o trabalho de futuros historiadores.
Sinnett não era nem santo nem pecador, mas seu destino cármico forneceu a ele uma oportunidade que ele agarrou com mãos ansiosas, mas que mais tarde ele deixou fugir por entre seus dedos, em parte devido às dúvidas lançadas nos próprios caminhos por tantos buscadores inexperientes.
Sua história de vida resume a luta de uma alma que vislumbrou a verdade, mas cujo discernimento e julgamento são inadequados para a tarefa de separar o verdadeiro do falso. Ele poderia ter alcançado a fileira de homens e mulheres como Blavatsky, Olcott, Judge e Damodar, mas teve que se contentar com a glória refletida de seus Mestres que piedosamente lança um véu protetor sobre suas falhas e fracasso pessoal.
Toda a infância de Alfred Percy foi marcada por uma quase interminável série de privações, quando sua mãe viúva tinha que prover para toda a família escrevendo artigos de jornais e traduções. Seu pai havia morrido sem um centavo quando Alfred Percy tinha apenas 5 anos de idade. Eram três irmãs e dois irmãos, quatro deles visivelmente desafortunados, outra irmã, Ellen, bem situada, casada com o filho de um famoso filantropo, William Ellis.
O rapaz ia mal na escola e como resultado de suas imaturas travessuras ganhou a desaprovação de seus professores. Sua mãe então decidiu colocá-lo em um trabalho agradável, desenho industrial. Ele se tornou um habilidoso projetista e foi capaz de ganhar dinheiro suficiente para sustentar a si mesmo e contribuir para com a parca renda de sua mãe.
Ao mesmo tempo, se esforçavam por obter uma pensão do serviço público para a Sra. Sinnett, mas a família Ellis prometeu a ela uma mesada anual de 100 libras caso ela abandonasse a ideia. Esse dinheiro finalmente tornou a vida suportável para os Sinnetts.
Nessa época Alfred obteve uma posição de subeditor assistente em um jornal noturno The Globe, Ele demonstrou talento literário, o que chamou a atenção do editor, Sr. Redway. O superior imediato de Alfred era o Sr. J. Herbert Stack, um nome que devemos encontrar novamente em conexão com as investigações da Sociedade de Pesquisas Psíquicas.
Durante esse tempo o jovem rapaz se apaixonou com uma moça alemã de Hamburgo. Logo a moça retornou para seu país sem escrever qualquer carta para seu devotado poeta. Sinnett enviou ao pai dela um telegrama, mas recebeu em resposta uma carta avisando-lhe que o romance estava terminado. O fato prejudicou sua eficiência no escritório resultando em sua demissão. A isso seguiu-se um período de emprego intermitente em diversos jornais, o que foi muito doloroso para ele. Entretanto, em 1865, recebeu a oferta de editor no jornal The Hong Kong Daily Press, que ele logo aceitou. Ele permaneceu na colônia por cerca de três anos e conseguiu acumular cerca de 1.800 libras.
Ao retornar para a Inglaterra ele passou pelos Estados Unidos, onde visitou uma colônia mórmon em Utah. Encontrou-se com Brigham Young (primeiro governador do estado de Utah. —— N.T.), e ficou favoravelmente impressionado por ele, assim como pelos mórmons que ali viviam, cerca de 100.000 pessoas. Quando chegou a Londres, encontrou seu velho amigo Henry Stack, irmão de seu antigo chefe, Herbert Stack. Henry o apresentou a uma certa família, os Henderson. A filha mais nova, Patience, mais tarde se tornaria a Sra. Sinnett.
A cerimônia de casamento aconteceu no dia 6 de abril de 1870. Sinnett havia se tornado editor do jornal The Evening Standard, que lhe assegurava uma renda adequada.
A Sra. Sinnett logo começou a manter um diário que, na ocasião de sua morte, consistia em 31 volumes. Sinnett usou esse diário para compilar sua autobiografia, a qual foi amplamente usada para escrever a presente obra.
Os 31 volumes do diário da Sra. Sinnett parecem ter sido engolidos por uma espécie de ser elemental, pois anos de busca falharam em localizá-los. Aparentemente eles foram entregues à Srta. Maud Hoffman, inventariante de Sinnett, mas o rastro se perde aí. O valor histórico desses volumes não pode ser subestimado, pois cobrem todo o período da vida pública de Madame Blavatsky na Índia e na Europa, até o seu passamento. Como a Sra. Sinnett faleceu em 1908, eles também cobrem os anos críticos imediatamente posteriores à morte de H.P.B. A perda desses volumes se compara apenas à incineração das cartas e anotações da Condessa Constance Wachtmeister por seu filho Axel, que, por razões conhecidas apenas por ele mesmo, entregou às chamas as preciosas anotações e cartas de sua mãe relacionadas aos últimos anos de vida de H.P.B., incluindo numerosas cartas de H.P.B. e possivelmente dos Mestres.
A principal diversão dos Sinnetts durante esse tempo era o jogo de cartas. Eles haviam introduzido o jogo de poker da China e passavam suas tardes com os Stacks e com Joan, a irmã mais velha de Patience Sinnett e seu marido, Sr. Clement Redfern. Em 1872 Sinnett teve sua grande oportunidade quando o Sr. George Allen, o proprietário do jornal anglo-indiano, The Pioneer, ofereceu a ele o posto de editor. Ele então se demitiu do The Standard e viajou para Allahabad, Índia, onde chegou perto do final do ano.
Os Sinnetts logo reuniram ao seu redor um círculo da comunidade anglo-indiana e sua casa passou a ser conhecida como “A Pequena Casa Holanda.” Eles desfrutavam de uma boa condição financeira e apesar do incômodo de um assistente invejoso no jornal, a fortuna sorria para os Sinnetts.
Em 1875, Sinnett viajou para a Inglaterra para um período de férias de três meses. Durante essa visita ele foi levado por um amigo espiritualista a uma sessão na casa da famosa médium Sra. Guppy. Sinnett escreveu em seu diário: “O fenômeno físico era impressionante e impedia qualquer teoria de impostura concebível. Minha convicção a respeito da realidade do fenômeno espiritual foi assim firmemente estabelecida e nunca abalada.”
Em maio de 1877, a Sra. Sinnett deu à luz um menino. Em 1879 o Sr. Allen vendeu o The Pionneer aos Srs. Rattegan e Walker, proprietários do jornal de Lahore The Civil and Military Gazette. Mais tarde, Sinnett teve certeza de que ele mesmo poderia ter comprado o jornal, pois os bancos estavam dispostos a emprestar-lhe o dinheiro. Seu relacionamento com os novos proprietários não era feliz, uma circunstância que mais tarde traria consequências lamentáveis.
Em sua Autobiografia encontramos as seguintes notas:
“Agora eu me aproximo do período de uma grande e significativa mudança em minha vida, surgido de meu encontro com Madame Blavatsky e da minha introdução ao Ocultismo.
“Alguém, Herbert Stack eu acho, havia me falado sobre o livro de Madame Blavatsky, Isis Seu Véu, que trazia uma nova ideia além do espiritualismo/espiritismo, a verdadeira realidade da magia. Depois vi uma declaração nos jornais de que ela e o Coronel Olcott haviam chegado em Bombaim, então escrevi uma nota sobre eles no The Pioneer, considerando que eles eram espiritualistas/espíritas que vinham à Índia em busca de uma nova variedade de mediunidade. O Coronel Olcott me escreveu a respeito dessa nota, e nós nos tornamos conhecidos de alguma forma através de cartas. Achamos que eles poderiam ser pessoas interessantes e decidimos convidá-los a nos fazer uma visita caso eles tivessem intenção — como eu havia deduzido — de viajar país acima. Eles chegaram no dia 4 de dezembro de 1879.”
Esse foi o início de uma duradoura associação, para não dizer amizade, entre Madame Blavatsky e o Coronel Olcott de um lado, e os Sinnetts, de outro.
O Sr. A.O. Hume, com quem mais tarde Sinnett teria uma estreita amizade, estava em Allahabad na mesma época da visita de Madame Blavatsky e ficou muito interessado nas suas ideias. Uma ocasião ele compareceu a uma das palestras sobre Teosofia proferidas pelo Coronel Olcott no Mayo Hall. Enquanto passavam o verão em Simla, em 1880, os Sinnetts receberam a segunda visita de H.P.B. e Olcott. Foi durante essa visita que a correspondência entre o Mahatma K.H. e Sinnett começou. Parece que durante uma conversa entre Madame Blavatsky e Sinnett, este fez críticas a respeito de como H.P.B. conduzia os assuntos da Sociedade, e sugeriu que se ele pudesse entrar em contato direto com os “Irmãos” eles demonstrariam mais bom senso. H.P.B. disse que isso poderia ser feito e Sinnett então escreveu uma carta endereçada a “um Irmão desconhecido.” Sinnett não fez cópias de suas cartas aos Mahatmas, mas preservou cuidadosamente as respostas que agora começava a receber por um período de muitos anos, até o final de 1885, quando sua atitude tornou-se ofensiva para os Mestres e também para os chelas que transmitiam fisicamente as mensagens, pois aparentemente o próprio Sinnett jamais chegara a uma condição que conduzisse a um contato direto com os Mestres.
Em março de 1881, os Sinnetts foram de férias para a Inglaterra, durante essa viagem Sinnett escreveu seu primeiro livro teosófico, O Mundo Oculto, que descrevia seus encontros com Madame Blavatsky e seu grupo, e os primeiros fenômenos produzidos em Allahabad e Simla. O livro causou uma profunda impressão no público da época, mas naturalmente também causou descontentamento na comunidade anglo-indiana e em seus empregadores do The Pionneer.
Em junho de 1882 uma certa dificuldade surgiu entre o Sr. Rattegan. O principal proprietário do The Pionner e Sinnett. Este último passava o verão em Simla, mas por conta de distúrbios em Allahabad, o editor queria que Sinnett retornasse ao escritório principal. A recusa de Sinnett causou uma ruptura que nunca foi remendada, e a partir de então era apenas uma questão de tempo para que Sinnett perdesse sua posição, embora mais tarde ele aparentemente tenha se preparado para obedecer ao pedido do Sr. Rattegan, que naquela altura já havia sido afastado.
Durante esse tempo, Sinnett estava se correspondendo com o Mestre K.H. através da ajuda psíquica de Madame Blavatsky, embora ele tenha deixado de mencionar esse fato em suas memórias. Os ensinamentos assim recebidos formaram a base de seu segundo importante trabalho, o Budismo Esotérico. Sinnett não possuía base suficiente para entender plenamente alguns dos ensinamentos passados a ele, e sua interpretação equivocada deles fez com que fosse necessário para H.P.B. corrigi-los mais tarde em sua obra A Doutrina Secreta. Esse fato lançou uma sombra sobre a antiga amizade entre H.P.B. e os Sinnetts.
No começo de outubro dois chelas visitaram o Sr. Siinnett a pedido do Mestre K.H. Havia um mistério em relação a essa visita, mas Sinnett resolveu interpretar isso como mais um dos pequenos truques de H.P.B. Em novembro, o Sr. Rattegan notificou a Sinnett que ele gostaria de encerrar sua função como editor. A razão mais importante para essa decisão pode ser encontrada no fato do Sr. Rattegan não gostar dos interesses teosóficos de Sinnett, mas além disso parecia ter sempre havido uma antipatia mútua. Esta foi uma ocasião em que os Mestres tentaram ativamente ajudar um dos membros em seus assuntos. K.H. fez grandes esforços para conseguir o capital necessário a fim de lançar um novo jornal sob o nome de “Phoenix.” Mas foi um grande fracasso por conta da indiferença nativa, mas também porque o próprio Sinnett acomodou-se e não usou sua própria iniciativa para dar início ao projeto.
Sinnett fez um acordo bem generoso com o Sr. Rattegan e com o dinheiro que havia acumulado na Índia possuía um total de 8.000 libras. Ele estava ansioso por retornar à Inglaterra onde sentia que seria capaz de viver de seus próprios artigos e dos juros de seu capital. Deixou Simla no começo de 1883 e passou por Calcutá em direção a Adyar onde ele visitou Madame Blavatsky em sua nova sede.
Ao chegar em Londres, logo fez contato com várias pessoas que mais tarde teriam um papel mais ou menos importante no Movimento. Ele fez amizade com a Sra. e a Srta. Arundale, cuja casa tornou-se o ponto de encontro para um dos primeiros grupos seriamente interessados em Teosofia. Lá ele conheceu a Dra. Anna KIngsford, presidente da gradualmente crescente Sociedade Teosófica Britânica, e também C.C. Massey, um dos dezessete fundadores da Sociedade original em Nova Iorque, e que agora vivia em Londres. Algumas reuniões aconteciam em sua casa.
Sinnett escreve:
“Conheci muitas pessoas interessantes nesse período, e o interesse pelo movimento Teosófico começou a se espalhar rapidamente em alguns níveis mais elevados da sociedade. Frederic Myers, Gurney, Professor Sidgwick, os líderes da Sociedade de Pesquisas Psíquicas, estavam bastante interessados e foram simpáticos a princípio.”
Madame Blavatsky não concordava com Sinnett a respeito de sua preferência em divulgar a Teosofia primeiramente entre os mais socialmente proeminentes. Sinnett, por outro lado, reclama que H.P.B., por conta de sua violação das convenções, quase sempre criava inimizade desnecessária por parte dos “grupos líderes” da Sociedade.
Sinnett também fez amizade com a família Gebhard, de Elberfeld, Alemanha, que teve um importante papel no começo do Movimento Teosófico.
A ideia de Sinnett era investir seu dinheiro em algum jornal e desse modo assegurar uma posição editorial assim como aumentar seu capital. Ele colocou um anúncio no Athenaeum com esse propósito. Recebeu apenas uma resposta, mas foi uma má sorte que o candidato tenha chegado na pessoa do Sr. Bottomley, que por acaso era um homem de jornal, mas que também tinha vários esquemas na manga, o que por fim levou o Sr. Sinnett a ficar sem suas economias indianas.
Em janeiro de 1884, os Siinnetts se mudaram para novas acomodações que logo se tornaram o centro de atividades Teosóficas. Ele escreve em sua Autobiografia, página 40 (do original em inglês), o seguinte:
“Nessa época, interesse no assunto (Teosofia) se espalhava rapidamente nos estratos superiores da sociedade e o reconhecimento desse fato induziu Madame Blavatsky a abandonar a sua intenção — muito efetivamente expressa a nós quando nos hospedamos com ela em Adyar em nossa viagem de regresso ao lar — de lá permanecer para o resto de sua vida. Ela providenciou sua vinda à Europa, acompanhada do Coronel Olcott, muito para o meu desapontamento, já que eu previa problema relacionado à presença deles em Londres.”
No dia 5 de abril, Olcott e Mohini, um jovem indiano e um chela em provação do Mestre K.H., chegaram a Londres. Eles eventualmente foram residir com os Arundales. Dois dias depois, Madame Blavatsky chegou repentinamente de Paris causando muita excitação, embora ela tenha retornado à França quase que imediatamente. Mais tarde ela se juntou ao Coronel na residência dos Arundales.
Infelizmente, o Coronel Olcott deu um passo em falso no dia 30 de junho quando, ao assistir a uma reunião na Sociedade de Pesquisas Psíquicas, levantou-se sem ter sido convidado e fez um discurso muito imprudente que não teve boa repercussão.
De qualquer forma, o discurso de Olcott fez com que os membros da Sociedade de Pesquisas Psíquicas ficassem ao mesmo tempo zangados e desconfiados, e a hostilidade que surgiu subsequentemente pode muito bem ter sido iniciada nesse dia.
Sinnett comenta:
“A catástrofe, em minha opinião, justificou o desgosto que havia eu livremente expresso quando Madame Blavatsky anunciou sua mudança de planos e a sua intenção de vir à Europa, para desempenhar um papel no inesperado entusiasmo que o Budismo Esotérico havia criado.”
O Coronel Olcott retornou à Índia em novembro, pois o escândalo Coulomb estava ganhando força naquela época.
Em janeiro de 1885, Sinnett foi eleito presidente da Sociedade Teosófica Britânica.
O Sr. Richard Hodgson voltou à Inglaterra após permanecer por vários meses na Índia a fim de investigar as acusações dos Coulomb de que as mensagens dos Mestres para H.P.B. seriam fraudulentas. Ele havia ficou muito desfavoravelmente impressionado. Trouxe consigo certas cartas de Madame Coulomb para H.P.B. que ele entregou ao Sr. Myers da Sociedade de Pesquisas Psíquicas, e este as mostrou a Sinnett. Embora as cartas fossem aparentemente muito comprometedoras, de acordo com Sinnett, por outro lado este não poderia concordar com o Sr. Hodgson na questão do Santuário.
Sinnett escreve:
“O relatório do Sr. Hodgson, que a Sociedade de Pesquisas Psíquicas — SPP — publicou pouco tempo depois, tratava de muitos outros assuntos, além das cartas, e sua tentativa de mostrar que o “Santuário” era um armário de truques usado por Madame Blavatsky com fins fraudulentos não teve sustentação para todos nós, devido às experiências que tivemos durante nossa estadia em Adyar em relação ao pequeno e famoso armário. Mas não vale a pena, aqui, entrar em detalhes sobre a furiosa controvérsia que surgiu em relação ao Relatório Hodgson. Ele teve o efeito de despedaçar completamente a Sociedade, que se dissolveu, até ficar apenas representada por poucos membros fiéis — os Arundales, Varleys, Keightleys e alguns outros. Mas ao narrar isso, antecipo eventos que somente culminaram muito tempo depois.”
Madame Blavatsky, Damodar e outros chelas haviam se tornado cada vez menos inclinados a atuar como “correio” para as correspondências de Sinnett com os Mahatmas. O seu conhecimento de Teosofia carecia da profundidade que não se alcança apenas através do conhecimento intelectual, mas também pela identificação espiritual da vida pessoal com a filosofia. O ponto alto das comunicações de Sinnett com os Mestres M. e K.H. foi atingido durante o ano de 1882, enquanto ele ainda residia em Allahabad e Simla. Poucas cartas foram recebidas durante o ano de 1883, enquanto que em 1884 foram treze e onze em 1885. Durante algum tempo ele procurou por algum médium que pudesse colocá-lo em contato com os Mahatmas novamente.
Em 26 de abril de 1886, ele foi apresentado a uma senhora a qual mais tarde ele chamou de Mary, e que durante um período de tempo o auxiliou com seus experimentos mesméricos, e cujo transe demonstrava notáveis poderes. Parece que ela teve um papel importante na vida de Sinnett e em uma ocasião esteve na mesma sala com Madame Blavatsky.
Foi nessa época que Sinnett escreveu seu livro Incidentes na Vida de Madame Blavatsky. No princípio a ideia era que o livro se chamasse “Memórias de Madame Blavatsky,” mas esse título foi vetado não apenas pela própria H.P.B. mas também pelo editor, pela razão de que as muitas viagens e experiências ocultas não serviram como relatórios precisos, exceto em linhas gerais. Madame Blavatsky estava aparentemente ansiosa para que Sinnett limpasse seu nome que havia sido arrastado para a lama pelo escândalo Coulomb e o relatório Hodgson. Ela forneceu a ele toda a ajuda possível, mas assim mesmo ainda havia imprecisões que poderiam se tornar sérias em um trabalho mais pretensioso. Os parentes russos de H.P.B. não apreciaram seus alertas aos hindus a respeito da Rússia, e Sinnett sentiu que a atitude deles havia deixado H.P.B. crítica em relação ao seu livro. Ele meio que comentou pesarosamente em sua Autobiografia (p. 53 do original em inglês) que nenhum de seus livros teosóficos havia lhe trazido qualquer lucro substancial, apesar da influência que eles indubitavelmente tiveram uma época.
Em março de 1887, um grupo de importantes teosofistas, entre eles Sinnett, Bertram Keightley, Sra. Kenningale Cook (Mabel Collins), Sr. Hamilton, e Dr. Ashton Ellis, se encontraram na casa do Dr. Archibald Keightley em Londres, todos desejosos por trazer Madame Blavatsky para a Inglaterra, exceto Sinnett, que tinha “um vago sentimento de que a sua vinda ocasionaria problemas.” A ideia, no entanto, foi posta em prática. Madame Blavatsky primeiro se hospedou na casa da Sra. Cook, onde Sinnett frequentemente a visitava. Entretanto, ele havia ficado um pouco afastado do entusiasmo com que os outros membros de Londres a haviam cercado e estava se esforçando por obter comunicações de K.H. através da mediunidade de Mary. Ele alegava ter recebido muitas dessas comunicações, mas aparentemente não há qualquer registro de tais mensagens. Ele mencionou que, em certa ocasião, ao abrir uma carta de Mary, havia achado um pedaço de papel com as palavras “coragem e esperança” escritas na caligrafia de K.H. Um dos muitos empreendimentos nos quais o Sr. Bottomley o havia induzido a investir havia falido. Os acionistas entraram na justiça e Sinnett e seus amigos perderam nas primeiras instâncias, mas ganharam na corte de apelação. De acordo com Sinnett, foi a respeito desse episódio que as palavras “coragem e esperança” se referiam.
Nessa época, os proprietários do jornal The Pioneer, decidiram estabelecer um escritório em Londres para suas duas publicações, The Civil and Military Gazette e The Pioneer. A tarefa foi confiada a Sinnett, que logrou estabelecer um escritório do qual ficou encarregado por alguns anos, com um salário de 500 libras, o que foi uma benção, já que a essa altura ele estava quase que completamente sem fundos. Entretanto, o antigo dono do The Pioneer, o agora Sir George Allen, havia comprado um número de ações do jornal e retornado à Inglaterra, decidido a administrar ele mesmo o escritório. Dessa forma, Sinnett mais uma vez se encontrou em uma precária situação financeira. Por quinze anos, desde o seu retorno à Inglaterra, com poucos interlúdios, ele havia passado por dificuldades financeiras.
Em 1888, Sinnett se associou com o editor G.W. Redway, o primeiro a publicar a revista Lúcifer, de H.P.B. Ela e os Keightleys moveram uma ação em uma corte do país contra Redway, alegando que ele havia cobrado dela 30 libras a mais. Como Sinnett era sócio de Redway, a ação foi indiretamente direcionada contra o próprio Sinnett. Redway ganhou a causa, mas o relacionamento entre H.P.B. e Sinnett não melhorou após essa disputa.
Em outubro de 1888, Mary escreveu para Sinnett dizendo que ele deveria fazer as pazes com H.P.B. Isso ele fez, mas quando A Doutrina Secreta foi publicada, ele percebeu que H.P.B. havia discordado de algumas de suas ideias contidas no Budismo Esotérico, e assim a amizade deles começou a esfriar novamente.
Por escolha própria, Sinnett havia se alienado de um grupo que continha alguns dos maiores nomes da história teosófica contemporânea. Annie Besant havia abandonado suas ideias de livre-pensadora e se juntado com entusiasmo ao grupo de Blavatsky como resultado de sua leitura de A Doutrina Secreta. O caso Coulomb havia se reduzido às suas proporções corretas e o relatório Hodgson estava cada vez mais desacreditado, à medida que o bom senso passou a fazer questionamentos. Não foi o Budismo Esotérico que sobreviveu, mas A Doutrina Secreta e Ísis sem Véu que, décadas após sua publicação, vendem tanto quanto na época em que saíram das prensas.
O livro Transactions of the London Lodge (Atas da Loja de Londres) foi, de acordo com Sinnett, o resultado de suas conversas com K.H. através da mediunidade de Mary.
Em 1889, Sinnett foi fundamental para trazer o Sr. Leadbeater do Ceilão a fim de instruir seu filho Denny, então com 12 anos de idade. O Sr. Leadbeater trouxe com ele um rapaz cingalês chamado C. Jinarâjadâsa, que alguns anos depois veio a tornar-se presidente da Sociedade Teosófica em Adyar.
Sinnett escreve:
“Não mantínhamos contato frequente com o pessoal da Avenue Road (residência de H.P.B.) e encontro um registro no diário para o dia 9 de maio, de que soubemos então da morte de Madame Blavatsky, que havia ocorrido no dia anterior.”
Ele compareceu à cremação em Woking no dia 11. Mas não existem outros registros em sua Autobiografia a respeito da mulher que havia tornado possível que ele se comunicasse com os Mestres, e que lhe havia dado tantas oportunidades preciosas de participar na missão à qual ela devotou sua vida.
Sinnett limitou-se ao trabalho de sua loja de Londres, à qual Mary pertencia. Após alguns anos ela se casou com um dos membros e gradualmente se afastou da convivência que outrora mantinha com os Sinnetts, para desgosto deles. Mary permaneceu na loja e frequentemente expressava suas opiniões, mas Sinnett sentiu que ela havia perdido o jeito. Sinnett experimentou com outros médiuns, o mais importante deles um homem chamado King.
Nesse ponto, algumas palavras precisam ser ditas a respeito Denny, o filho de Sinnett. Ele era em todo o sentido da palavra um fracasso e custava dinheiro e aborrecimentos a seus pais. Sinnett não tem uma única palavra feliz para dizer sobre ele. Quando a Guerra dos Bôeres irrompeu, ele se alistou, mas o jovem jamais participou de qualquer ação. Suas obrigações consistiam principalmente em tomar conta dos prisioneiros. Ele se casou com a filha de um médico da colônia do Cabo, com a qual teve dois filhos. Sinnett consegue para ele um emprego no jornal de Londres, mas onde também não teve sucesso. Ele retornou para a África do Sul depois de um tempo, mas contraiu tuberculose. Em 1908, retornou a Londres em um estado de definhamento e nos últimos estágios da doença. Morreu logo depois. A Sra. Sinnett também adoeceu nessa época e morreu de câncer.
Além desses problemas, as relações de Sinnett com a Sociedade haviam se tornado tensas. O Coronel Olcott havia falecido em 1907 e Sinnett, como vice-presidente, tornou-se a maior autoridade dentro da Sociedade até a eleição de um novo presidente. A Sra. Russak, mas tarde Sra. Hotchener, editora da revista World of Theosophy, de Los Angeles, Califórnia, escreveu a ele sobre uma visita a Olcott em seu leito de morte feita pelos Mahatmas M. e K.H. Sinnett não acreditou na autenticidade desse relato e parece ter havido uma divisão de opiniões sobre o assunto em Adyar também.
Mais tarde Sinnett declarou ter recebido informação pessoal dos Mestres de que os fenômenos tinham sido genuínos.
Annie Besant e Bertram Keightley estavam em Adyar nessa época, e tendo em vista que Sinnett encontrava-se distante da Sede, foi sugerido que ele apontasse um representante. Ele recebeu um telegrama de Annie Besant pedindo que ele a indicasse como sua representante até a eleição. O pedido pareceu inapropriado para ele, pois ele pretendia manter uma atitude imparcial entre as visões opostas então representadas no Conselho. Ele então enviou um telegrama ao tesoureiro, Sr. Frank Davidson, para que este atuasse em seu nome. Essa escolha evidentemente não agradou a muitos do Conselho, criando sérios atritos.
O Coronel havia nomeado a Sra. Besant como sua sucessora, pouco antes de seu passamento, mas tal nomeação tinha de ser aprovada por dois terços dos votos de toda a Sociedade. A eleição foi marcada para o mês de maio pelo Sr. Sinnett. Como a Sra. Besant era a única candidata ao posto, sua eleição já era dada como certa. Entretanto, o Sr. Sinnett havia considerado a ideia de aceitar a presidência do Ocidente, se outra pessoa estivesse disposta a aceitar um papel semelhante no Oriente. Uma vez que tal sugestão era inconstitucional, o seu único efeito foi criar ainda mais atrito entre Sinnett e os principais membros da Sociedade.
Em junho de 1907, a Sra. Besant foi oficialmente proclamada presidente. Entretanto, em julho do mesmo ano, Sinnett publicou um artigo com críticas à Sra. Besant em sua revista Broad Views sob o título de “As Vicissitudes da Teosofia,” no qual ele também contestava a visão comumente aceita de que H.P. Blavatsky havia sido especialmente enviada pelos Mestre para formar a Sociedade Teosófica. Ele apontou que certa vez os Mestres tinham dado a H.P.B. a escolha de permanecer no Tibete como uma estudante de ocultismo, ou retornar ao mundo. Sinnett afirmou que foi sua afeição por seus parentes que a fizeram retornar.
A Sra. Besant achou que tais opiniões não eram compatíveis com o cargo de vice-presidente ocupado pelo Sr. Sinnett. Ela então pediu a sua renúncia e indicou o Sir S. Subramania Iyer para seu lugar.
A Loja de Londres se separou da Sociedade e Sinnett formou um novo grupo que ele chamou de Sociedade Eleusiana. O novo grupo não durou muito. Em 1911, ele sanou suas diferenças com a Sra. Besant e foi readmitido. Novamente foi feito vice-presidente, com Sir Subramania Iyer renunciando em seu favor. A loja de Londres foi reconstituída e de novo anexada à Adyar.
Em 19 de outubro de 1910, Sinnett teve uma sessão privada com seu amigo King. Sinnett afirma que nessa ocasião Dâmodar apareceu dizendo algumas palavras indistintas. Durante a mesma noite alega-se que H.P.B. e Judge apareceram. Mais tarde nesse mês, Sinnett escreve que ele havia visto Dâmodar, e que este lhe havia fornecido um relato detalhado do que havia acontecido em Adyar na ocasião da morte de Olcolt. Diferia em alguns aspectos da história que a Sra. Russak havia contado em uma carta para Sinnett, mas confirmava a ideia principal de que os Mestres Morya e K. H. haviam tomado parte no processo.
Em 1910 Sinnett conheceu uma atriz americana, Srta. Maud Hoffman, que mais tarde foi a executora de seu testamento, o qual incluía as importantes cartas dos Mestres e de H.P.B.
A Sra. Besant tomou a iniciativa de angariar fundos para amparar Sinnett em sua velhice. Ele recebeu 5.000 libras, mas não viveu o bastante para desfrutar do término de suas necessidades. Ele faleceu em 27 de junho, 1921, aos 81 anos.

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